Clarisse Boechat – coordenadora da Comissão de Mídias

O ponto de partida do cartaz foi justamente essa montagem dos copos. Do copo, nós extraímos a sua materialidade, sua concretude de objeto, na qual nos apoiamos para interrogar as formas pelas quais, na transferência, o “copo-corpo” de um analista, em carne e osso, pode presentificar o objeto condensador do gozo singular que afeta cada falasser.

A transferência também pode ser evocada pelo encontro entre a luz e o corpo do copo. Se tal encontro dá lugar à suposição de saber e à vertente luz-sentido, as nuances da transferência vão além da proliferação metonímica dos S2, do saber.

A transparência do copo, à semelhança de uma porta de vidro, não a impede de ser um obstáculo: pelo contrário, alguém pode se chocar com ela justamente por isso. Essa analogia é extensiva à transferência: acreditar em sua aparente transparência constitui-se um obstáculo à análise porque a ideia de que tudo é visível esconde que a transparência introduz um elemento menos óbvio de sombra, que se espraia como uma opacidade real. Luz e transparência podem ocultar que a transferência se apresenta como motor, mas também como entrave ao tratamento.

Interessou-nos, ainda, a sutil diferença entre os copos: se olharmos com atenção, veremos que cada um é como nenhum outro. Uma franja sombreada pode desenhar-se à condição de que a presença de um analista seja opaca o suficiente para que um sujeito desloque para ali seu gozo.

Temos essa zona de sombra, de sobra: o analista no lugar de resto encarna o êxtimo e faz ecoar com sua presença uma poética pulsional que não se decifra porque, se a transferência é o campo do amor e outras paixões, ela é também o campo da irrupção do gozo sem sentido que itera.

Há o Um de cada copo, mas há também o múltiplo, ou seja, a transferência de trabalho articulando o gozo próprio a cada um ao trabalho de Escola. Ao fim de uma análise, liquidada a transferência em relação ao Sujeito suposto Saber (SsS), demonstra-se que aquilo que foi causa de uma paixão pode tornar-se laço de trabalho que sustenta a transmissão na comunidade analítica.

Elaborações e cartaz feitos a partir do trabalho da Comissão de Identidade visual:

Anna Luiza Almeida
Clarisse Boechat
Cristina Frederico

Comissão de mídias:

  • Clarisse Boechat (coordenação)
  • Ana Cecília Boal
  • Caroline Noel
  • Daniele Menezes
  • Ingrid Valério
  • Jefferson Nascimento
  • Maira Rossi
  • Paloma Ametlla